Texto produzido pela Zootecnista Juliana Mara de Freitas Santos
Neste cenário da pecuária, surgem diversas críticas frente à cadeia produtiva de carne, onde a produção de metano pelos ruminantes afeta o meio ambiente, contribui para o efeito estufa e consequentemente para o aquecimento global, porém, muitas vezes a mídia (televisão, internet, jornais etc.) trazem publicações exageradas e tendenciosas que não refletem exatamente a realidade.
É importante enfatizar que a intensidade da emissão de metano proveniente da fermentação ruminal de bovinos de corte depende principalmente do tipo de animal, consumo de alimentos, digestibilidade da dieta e de estratégias que proporcionem aumento na eficiência produtiva e resultem em ciclos de produção mais curtos. Compreende-se que ao fazer referência a esta realidade, faz-se necessário apontar diferentes estratégias diretas (nutricionais) e indiretas (produtivas e de manejo) para mitigar a emissão de metano, trazendo informações mais acuradas do processo fermentativo e produtivo dos ruminantes.
A redução da produção de metano por bovinos também propicia um aumento de eficiência no aproveitamento de energia pelos animais, refletindo em melhor desempenho produtivo e econômico. É fundamental que o Brasil demonstre a sustentabilidade da atividade pecuária, favoreça o debate e possibilite o questionamento técnico para barreiras não tarifarias de origem ambiental, considerando que produzir respeitando o meio ambiente é uma das exigências do mercado consumidor, principalmente o europeu.
As principais estratégias para reduzir a emissão de GEE abrangem: melhoria dos índices produtivos e reprodutivos (redução da idade do abate, ao primeiro parto e o intervalo entre partos); redução da quantidade de animais de reposição; aumento da longevidade das matrizes; aumento do mérito genético dos animais e das forragens; seleção de animais com melhor CAR (consumo alimentar residual), otimização da formulação de dietas; uso de aditivos e suplementos; melhoria da eficiência de conversão de alimentos; otimização da oferta de água de qualidade; melhoria do manejo dos animais e das pastagens; aprimoramento da sanidade animal (controle de parasitas, doenças e vacinas); busca do bem estar animal (Boadi et al., 2004; Hegarty et al., 2007; Beauchemin, et al., 2008; Perdok e Newbold, 2009; Berndt, 2010; Smith et al., 2011).
Além das atividades citadas, uma outra opção que vem ganhando espaço entre os produtores e demonstrando resultados através de pesquisas que farão com que essa prática se torne promissora em termos de produção agropecuária são a adoção do uso dos sistemas integrados, pois se tornou uma alternativa viável de produção e ainda promovem muitos benefícios, aumentando a eficiência no uso dos recursos naturais, com menor impacto sobre o meio-ambiente, uma vez que os processos de degradação são controlados por meio de práticas conservacionistas.
O ILP (Integração Lavoura Pecuária) e o ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta) consistem na diversificação da produção, possibilitando o aumento da eficiência na utilização dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente, a estabilidade de produção e a renda do produtor.
Dado o papel reconhecido das árvores em sequestrar C (carbono) e mitigar a emissão de GEE, os sistemas agroflorestais e de ILPF que contemplam o componente arbóreo apresentam uma importante contribuição para o balanço de emissões de GEE.
Baseado nessa idéia, a Embrapa criou o plano ABC+ que é a segunda etapa do Plano ABC que foi realizado entre 2010 e 2020 e superou as expectativas mitigando cerca de 170 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em uma área de 52 milhões de hectares, superada em 46,5% em relação à meta estabelecida.
O avanço na alimentação bovina agrega ingredientes que resultam em uma emissão menor de gases de efeito estufa. Outra tecnologia proposta pelo ABC+ é a plantação de florestas numa expansão de 4 milhões de hectares para a recuperação de áreas ambientais e produção comercial de madeira, fibras, alimentos, bioenergia e produtos florestais não madeireiros tais como látex e resinas.
Referências:
BEAUCHEMIN, K.A., KREUZER,M., O´MARA,F., MCALLISTER,T.A. 2008. Nutritional management for enteric methane abatement: a review. Australian Journal of Experimental Agriculture. 48:21-27.
BERNDT, A. 2010. Estratégias nutricionais para redução de metano. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE NUTRIÇÃO ANIMAL 4., 2010, São Pedro, SP. Anais... São Pedro: CLANA: CBNA: AMENA, p. 295-306
BOADI D, BENCHAAR C, CHIQUETTE J, MASSE D. 2004. Mitigation strategies to reduce enteric methane emissions from dairy cows: update review. Canadian Journal of Animal Science 84, 319–335.
HEGARTY, R.S., GOOPY, J.P., HERD, R.M., MCCORKELL, B. 2007. Cattle selected for lower residual feed intake have reduced daily methane production. Journal of Animal Science. 85: 1479-1486.
PERDOK, H.; NEWBOLD, J. 2009. Reducing the carbon footprint of beef production. Nutrition for Tomorrow. Provimi Nutron, December 2009.
SMITH P, MARTINO D, CAI Z, GWARY D, JANZEN H, KUMAR P, MCCARL B, OGLE S, O’MARA F, RICE C, SCHOLES B AND SIROTENKO O 2011. Agriculture. In: Metz, Davidson, Bosch, Dave, Meyer (Eds.), Climate Change 2007: Mitigation. Contribution of working group III, 4th Assessment report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom.



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