Samira Adil Ahmad*¹; Lucas Cardoso da Silva¹; Fernando Christiano Gabriel Morelli²
¹ Discentes do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina (FEA);
² Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*samira.adil@outlook.com
A tripanossomíase bovina é uma enfermidade provocada por um grupo de protozoários do gênero Trypanosoma, que possui grande importância mundial na bovinocultura, seja de corte ou leiteira (GERMANO et al., 2018). Foi registrada pela primeira vez no Brasil em 1972, em Belém no estado do Pará (SILVA; DÁVILA, 1998). O Trypanosoma (Dutonella) vivax (T. vivax) é um dos principais causadores dessa doença (LOPES et al., 2018). A doença pode causar severa perda na produtividade, podendo reduzir bruscamente a produção de leite e a taxa de prenhez (GERMANO et al., 2018), acomete muitos animais e tem alta mortalidade do rebanho (LOPES et al., 2018).
Os animais acometidos por esse protozoário podem apresentar depressão, incoordenação motora, cegueira transitória, anorexia, febre, aumento da frequência cardíaca e respiratória, perda de peso, anemia, entre outros sintomas, além de desordens reprodutivas que afetam tanto machos quanto fêmeas (BEZERRA; BATISTA, 2008).
O T. vivax pode ser transmitido ciclicamente pela mosca Tsé-Tsé (Glossina spp.) originária da África, e mecanicamente por uma variedade de espécies de dípteros hematófagos, como os tabanídeos (Tabanus spp) e a mosca do estábulo (Stomoxys calcitrans), que ocorre mais comumente na América do Sul e Central (SILVA et al., 2004). A transmissão pode ocorrer também por via direta através de fômites, principalmente de agulhas que foram compartilhadas durante a administração de vacinas ou medicamentos (CARVALHO, 2008).
Como a transmissão do agente (protozoário) depende de um agente transmissor (vetor mecânico), a tripanossomose bovina se restringe a regiões onde o clima é favorável à habitação desses vetores. (GERMANO et al., 2018).
A doença chegou ao Brasil através da importação de bovinos da África (GERMANO et al., 2018). O primeiro relato da doença no Brasil ocorreu no estado do Pará, mas a doença não se limitou a Região Norte do país, chegando posteriormente ao Mato Grosso e ao Nordeste. Atualmente a doença é amplamente difundida por todo o Brasil (BEZERRA; BATISTA, 2008).
A presença de infecções secundárias irá dificultar o diagnóstico e tornar os casos mais graves (PAIVA, 2000). Sintomatologia nervosa como incoordenação, tremores musculares, cegueira transitória e/ou permanente e hipermetria também podem ser observados (BATISTA, 2008).
A tripanossomose também acarretar danos reprodutivos nos bovinos, causando, em machos, baixa qualidade seminal, perda de libido e retardamento da puberdade. Nas fêmeas os ciclos estrais são anormais, o anestro é temporário ou permanente, e podem ocorrer distocias e abortos no terço final da gestação (SILVA et al., 2004; BATISTA et al., 2008).
A técnica de diagnóstico mais utilizada é o exame parasitológico, tendo em vista a praticidade e eficiência desta, principalmente quando há alta carga parasitaria na amostra. A mais usual é a técnica da gota espessa, a técnica no micro-hematócrito ou a técnica do Buffy Coat. Os exames sorológicos são mais sensíveis que os parasitológicos, porém a especificidade é baixa (GERMANO et al., 2018).
Os medicamentos utilizados no tratamento da tripanossomose bovina são a base de aceturato de dimenazene e cloreto de isometamidium, pois são potentes protozoaricidas e tripanocidas. Todavia, há uma preocupação para que o protozoário não adquira resistência a essas drogas, que apesar de não fazer a eliminação completa do hemoparasito, ainda são eficazes no tratamento da doença (GERMANO et al., 2018).
A profilaxia é realizada somente quando o gado está sob constante risco ou quando a enfermidade ocorre em um alto nível durante o ano, para que não haja resistência (BOYT, 1998).
O controle é baseado no vetor (agente transmissor), com o objetivo de eliminar o parasita através da utilização de inseticidas, e obtenção de um manejo adequado quanto à matéria orgânica (SILVA et al., 2004). Na quimioprofilaxia são utilizados medicamentos que terão persistência no organismo dos animais, porém implica em um efeito residual. Na quimioterapia são utilizados medicamentos curativos como os tripanocidas, que eliminam os protozoários e interrompem seus processos vitais no organismo do hospedeiro (BOYT, 1998).
COSIDERAÇÕES FINAIS
A tripanossomose bovina é uma enfermidade que causa prejuízos aos pecuaristas, cujo tratamento precisa ser avaliado quanto a viabilidade econômica.
O agente causador é facilmente veiculado por insetos. O manejo errado de medicamentos e inseticidas, assim como a aquisição de animais de rebanhos já contaminados, facilita a disseminação do parasita causador (protozoário), o que reforça a necessidade do tratamento ou retirada dos animais enfermos da propriedade.
O médico veterinário deve sempre ser consultado sobre quais atitudes devem ser tomadas em relação a doença, para que o controle seja eficiente e o problema rapidamente contido. Normalmente as perdas são muito significativas, havendo muitas mortes, principalmente quando a doença ocorre pela primeira vez na propriedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATISTA, J. S. et al. Aspectos clínicos, epidemiológicos e patológicos da infecção natural em bovinos por Trypanosoma vivax na Paraíba. Pesquisa Veterinária Brasileira. Mossoró, v. 28, n. 1, p. 63-69, 2008. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/pvb/v28n1/a10v28n1.pdf. > Acesso em: 13 ago. 2019.
BEZERRA, F. S. B; BATISTA, J. S. Efeitos da infecção por Trypanosoma vivax sobre a reprodução: uma revisão. Acta Veterinaria Brasilica, Mossoró, v. 2, n. 3, p. 61-66, 2008. DOI: 10.21708/avb.2008.2.3.752. Disponível em:< https://periodicos.ufersa.edu.br/index.php/acta/article/view/752/495. > Acesso em: 13 ago. 2019.
BOYT, W. P. A Field guide for diagnosis, treatment and prevention of African animal Trypanosomiasis. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Roma, v. 27, 1998. Disponível em:<http://www.fao.org/3/x0413e/X0413E00.htm > Acesso em: 15 ago. 2019.
CARVALHO, A. U. et al. Ocorrência de Trypanosoma vivax no Estado de MG. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 60, n. 3, p. 769-771, 2008. DOI: 10.1590/S0102-09352008000300037. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/abmvz/v60n3/37.pdf. > Acesso em: 13 ago. 2019.
GERMANO, P.H.V. et al. Tripanossomose bovina: revisão. PUBVET, Maringá, v. 12, n. 8, p.1-6, 2018. DOI: 10.31533/pubvet.v12n8a144.1-6. Disponível em: <pubvet.com.br/artigo/4962/tripanossomose-bovina-revisatildeo. > Acesso em: 13 ago. 2019.
LOPES, S. T. P. et al. Trypanosoma vivax em bovino leiteiro. Acta Scientiae Veterinariae, Teresina, v. 287, suppl. 1, p. 1-5, 2018. Disponível em:< http://www.ufrgs.br/actavet/46-suple-1/CR_287.pdf > Acesso em: 13 ago. 2019.
PAIVA, F. et al. Trypanosoma vivax em bovinos no Pantanal do Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil: II – Inoculação experimental. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 9, n. 2, p.149-151, 2000. ISSN: 0103-846X. Disponível em:<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://www.ufrrj.br/rbpv/922000/c92143_148.pdf. > Acesso em: 13 ago. 2019.
SILVA, R. A. M. S; DÁVILA, A. M. R. Trypanosoma vivax: biologia, diagnóstico e controle. In: KESSLER R. H.; SCHENK M. A. M. Carrapato, tristeza parasitária e tripanossomose dos bovinos. Embrapa Gado de Corte: Campo Grande. 1998. p. 123-125.
SILVA, R. A. M. S. et al. Abortos por Trypanosoma vivax no Pantanal Mato-Grossense e Bolívia. EMBRAPA: Corumbá, n. 75, p. 1-21, 2004.
SILVA, R. A. M.S. et al. Tripanossomose bovina por Trypanosoma vixax no Brasil e Bolívia: Sintomas clínicos, diagnósticos e dados epizootiológicos. EMBRAPA: Corumbá, n.8, p. 1-18, 1997.



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