Na bovinocultura, os esforços se concentram na produtividade, procurando eliminar fatores limitantes como os parasitas que podem impactar diretamente na produtividade animal, de tal forma, os antiparasitários devem agir de forma ostensiva no seu controle e prevenção, além de promover a segurança e bem-estar do animal.
O aparecimento da resistência em bovinos foi determinado no início dos anos 90 no Brasil. Os gêneros predominantes de parasitas resistentes são:
-
Cooperia sp., Trichostrongylus sp., e Haemonchus sp.
No entanto é importante mencionar que a resistência parasitária ainda não preocupa como deveria a maioria dos bovinocultores brasileiros que utilizam largamente o animal zebuíno, que possui como características a rusticidade, produção e a adaptação ao clima porém não está “imune” às parasitoses.
Então, o que é a resistência parasitária?
A resistência parasitária é um fenômeno pelo qual uma droga não consegue manter a mesma eficácia contra os parasitas, se utilizada nas mesmas condições, após um determinado período de tempo (CONDER & CAMPBELL, 1995).
A “resistência” é confirmada quando uma determinada droga que apresentava redução da carga parasitária acima de 95% decresce a nível inferior a este valor contra o mesmo organismo depois de determinado período, segundo CONDER & CAMPBELL (1995). O aparecimento da resistência parasitária é praticamente inevitável e esta característica é transferida para as próximas gerações, ou seja, é uma característica hereditária. A eficácia dos fármacos diminui consideravelmente devido a este caráter seletivo, favorecendo a permanência de organismos resistentes e a eliminação de indivíduos susceptíveis. Sendo assim, a população resistente não é alterada com o tratamento antiparasitário, ocorrendo então, uma mudança da característica genética da população. O intervalo para que este fenômeno se inicie, dependerá da espécie do parasita, da pressão de seleção exercida pelo espectro do fármaco e da frequência do tratamento.
Causas predisponentes ao aparecimento da resistência parasitária:
-
Tratamento supressivo – curto intervalo entre tratamentos: O tratamento que visa eliminar os parasitas no hospedeiro antes que este complete seu ciclo de vida, é uma estratégia que só pode ser indicada após a comprovação da inexistência da resistência parasitária. Deve-se propor intervalos que permitam que a população susceptível complete seu ciclo biológico, anulando o processo de seleção química.
-
Tratamento estratégico: É utilizado quando o número de larvas na pastagem se encontra reduzido. Porém, muito embora esta estratégia possa maximizar os efeitos do tratamento, também poderá fragilizar a população em refugia, favorecendo indivíduos resistente
-
Medicamentos de longa persistência: O período de persistência das drogas tem ampla variação entre os compostos e exerce grande influência no processo de seleção parasitária.
-
Uso da combinação de compostos: A utilização desta estratégia apresenta o maior grau de eliminação parasitária, podendo inclusive manter altos índices de eficácia por períodos prolongados.
-
Uso de doses baixas por períodos prolongados: DI PIETRO (1992) sugeriu que a utilização de uma dose abaixo da dose terapêutica, administrada diariamente, poderia promover maior vantagem quando comparada ao tratamento convencional.
Como ocorre o processo de seleção parasitária?
A frequência de utilização dos compostos antiparasitários é o principal fator responsável pelo desencadeamento do processo de seleção. Este aspecto ocorre de maneira gradativa e acredita-se que quanto maior a eficácia do fármaco, mais acentuado seja o início do processo de seleção por organismos homozigoto-resistentes (BARGER, 1995).
Segundo UTHERST & COMINS (1979) são três componentes da gênese da resistência:
- No início ao acaso, existe o estabelecimento da resistência, que é influenciado pelo tamanho e pela diversidade da população parasitária. Não se tem controle quanto ao estabelecimento da resistência nesta fase.
- Segue-se então o desenvolvimento da resistência que é agravado com o uso de agentes selecionadores, como os compostos químicos.
- Caso este processo seja contínuo e a população resistente se encontre em vantagem numérica, ter-se-á então a manifestação da resistência como um problema visível.
Como retardar o processo da resistência?
-
Freqüência/época do tratamento: Deve-se propor um calendário que promova ótimo controle parasitário com o menor número de tratamentos possível, a fim de otimizar a utilização dos compostos antiparasitários.
-
Escolha do medicamento: Deve-se utilizar somente compostos que tenham eficácia comprovada nas dosagens recomendadas. Drogas com grande poder residual têm a desvantagem de selecionar organismos dominantes, quando possível, deve-se optar por compostos de eficácia comprovada e de curto poder residual.
-
Mistura de compostos – combinação: Uma das várias formas de melhor utilização dos compostos antiparasitários é a combinação de drogas. Esta estratégia é utilizada após o aparecimento da resistência a um grupo de drogas e/ou para ampliar o espectro de ação do produto final. A combinação dificulta o aparecimento de genes da resistência e apresenta reduzido potencial para difundir esta característica na população parasitária.
-
Manejo da propriedade: Deve-se associar mais de uma estratégia de manejo com o intuito de reduzir o número de formas infectantes no meio ambiente. Como por exemplo, tratar os animais somente após mover para pastagem limpa (MOLENTO et al., 2004)
Portanto, é necessário ter em mente que é mais produtivo, inclusive economicamente, prevenir a doença ao invés de eliminá-la, mantendo um baixo grau de infecção no animal e na pastagem. O controle sanitário deve ser realmente otimizado para obter animais com melhor performance e produtividade, sem causar prejuízos como selecionar animais resistentes.

Comente: