O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de milho, sendo a maior parte da sua produção destinada à alimentação animal. O processamento dos grãos do milho refere-se aos métodos físicos e químicos que visam potencializar a fermentação do amido no rúmen, além de minimizar as limitações da digestão do amido no intestino delgado dos ruminantes. Levando em consideração que a maior degradação do amido no rúmen melhora o suprimento de proteína microbiana e a produção de energia, na forma de ácidos graxos voláteis (LAGE et al., 2017).
O milho é um cereal que tem como principal componente o amido (65 a 72% da matéria seca) e o processamento desse grão refere-se aos métodos de preparo para a alimentação e objetivando uma melhoria da digestibilidade e da palatabilidade de tal ingrediente como também a inativação de fatores antinutricionais.
No caso dos ruminantes, o processamento do milho potencializa a fermentação do amido no rúmen e minimiza as limitações da digestão do amido no intestino delgado, aumentando a digestibilidade em ambos os compartimentos e uma maior degradação do amido no rúmen melhora o suprimento de proteína microbiana e a produção de energia, na forma de ácidos graxos voláteis (AGV) (Ferrareto et al., 2013).
Sendo que esse aumento na produção de AGV pode favorecer o desenvolvimento das papilas ruminais e o aumento da palatabilidade pode ser importante para aumentar o consumo de concentrado na categoria dos bezerros, como também é de fato muito importante quando voltamos ao uso de grãos processados na dieta de vacas em lactação.
Características nutricionais do milho e do amido:
O grão de milho é formado por quatro partes: endosperma, gérmen (embrião), pericarpo (casca) e ponta. Portanto:
- Ponta: formada por material lignocelulósico (2% do grão).
- Pericarpo ou Casca: Formado essencialmente por celulose e hemicelulose.
-Gérmen: Parte vegetativa do grão onde se encontra o embrião (11%), e é constituído principalmente de lipídeos e proteínas, além de vitamina E, minerais e açúcares.
- Endosperma: Região de estocagem de energia onde se concentra 98% do amido, e em menor proporção é constituído de proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais. E aqui, também pode ser classificado como vítreo (córneo) e farináceo (denso) de acordo com a distribuição proteica e dos grãos de amido, devido à presença ou falta de presença de matriz proteica circundado os grânulos, segundo Gonçalves et al. (2009).

Figura 1. Anatomia do Grão de Milho, Sementes Biomatrix. Acesso em: 06/2021.
Digestão do amido
A digestibilidade do amido nos grãos de milho é limitada pela matriz protéica do endosperma, que dificulta o ataque de enzimas, principalmente no vítreo. (Lopes et al., 2009). Separamos pontos importantes a serem considerados:
- A parte mais importante dessa matriz são as prolaminas (chamadas zeínas nos grãos de milho), que são proteínas com alta concentração de prolina, que é um aminoácido hidrofóbico, e proteínas com alto conteúdo de prolina desenvolvem a mesma característica) o que acaba dificultando o acesso das bactérias ruminais ao amido, uma vez que o rúmen é um ambiente líquido. (Larson & Hoffman, 2008)
- A proporção de amilose e amilopectina que é o componente mais abundante no amido, constituindo cerca de 70 a 80%, sendo o principal componente do milho. Essas moléculas são mantidas unidas pelas pontes de hidrogênio, resultando em grânulos de amido com estruturas altamente organizadas e baixa capacidade de absorção de água quando íntegras (Nocek & Tamminga, 1991) A digestibilidade do amido é inversamente proporcional ao teor de amilose, fontes de amido com alto teor de amilopectina podem ter maior digestibilidade. (Jobim et al., 2003)
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Métodos de processamento do milho grão:
As várias formas de processamento do grão de milho podem mudar o seu valor nutritivo pela mudança no local e intensidade de digestão (Gonçalves et al., 2009) e isso é explicado como, por exemplo, devido as alterações físicas (ex: moagem) que rompem as barreiras de acesso ao amido, facilitando o acesso enzimático e consequentemente o processo de digestão (McAllister et al., 1994). Já as alterações químicas são resultantes de processos que mudam a estrutura dos componentes como o rompimento das pontes de hidrogênio que mantém os polímeros de glicose unidos, o que permite maior absorção de água (gelatinização dos grânulos de amido) resultando em melhor digestão enzimática (Firkins et al., 2001).
Principais formas de processamento do grão de milho:
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Moagem (ground corn): Processo de redução do tamanho de partículas a partir da força do impacto corte ou atrito, seguido de peneiramento podendo este apresentar aspecto fino ou grosseiro (Mourão et al., 2012). Ocorre a eliminação do pericarpo, que constitui uma barreira física, redução do tamanho das partículas, aumentando a superfície de contato do alimento com os microrganismos ruminais e enzimas digestivas e redução do tempo de permanência no rúmen.
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Laminação a seco (dry rolled corn): O grão inteiro é quebrado em pedaços menores, após passar por um rolo cujo ajuste estabelece a intensidade da quebra. Como na moagem, o grão sofre modificação somente na estrutura física, embora de forma mais branda.
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Laminação a vapor (steam-rolled corn): Os grãos são mantidos por 15 a 20 minutos em um condensador, onde recebem o contato do vapor, a uma temperatura de 90 a 95°C, elevando a sua umidade para concentrações entre 17 e 20%. Em seguida, o milho é direcionado aos rolos compressores, onde ocorre a laminação, gerando grãos de 1,5 a 2,4 mm de espessura. Posteriormente, os grãos laminados e parcialmente gelatinizados são submetidos à secagem (Pereira & Antunes, 2007).
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Floculação a vapor (steam-flaked corn): Os grãos são mantidos no condensador por 30 a 60 minutos, a temperatura entre 90 e 105°C, o que eleva a umidade do milho para 20 a 24% e intensifica o processo de gelatinização. Além dos rolos laminadores, os grãos passam por um segundo par de rolos, ajustados de forma a comprimirem com maior intensidade os grãos, deixando-os com espessura próxima de 0,9 a 1,1 mm (Pereira & Antunes, 2007).
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Extrusão (Extruded corn): Assemelha-se à laminação a vapor, porém os grãos são moídos antes do tratamento a vapor e passam por uma rosca sem fim, de onde são extrusados através de orifícios aonde o alimento vai se expandindo na direção em que ele é expelido. A expansão sofrida pelos grãos causa ruptura dos grânulos de amido (Gonçalves et al., 2009)
Atenção!
O uso de grãos intensamente processados pode ser prejudicial por causar queda de pH do rúmen, que pode causar reduções na digestibilidade de carboidratos fibrosos, queda no consumo e acidose ruminal (Ferrareto et al., 2013) e o processamento a ser utilizado é selecionado com base no aumento de digestibilidade, aceitabilidade pelo animal, custo, e probabilidade de causar disfunções digestivas.



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