O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo com 224,6 milhões de cabeças IBGE, 2021 (BELANDI, 2021). Apesar disso ainda é insuficiente em questão de produtividade, ficando em segundo lugar no ranking, produzindo 9.714,2 toneladas equivalentes a carcaça, sendo 13,66% da produção mundial (ABIEC, 2022).
Diante disto, nota-se a necessidade de potencializar a produção de carne. Desta forma é essencial melhorar a eficiência reprodutiva do rebanho de corte. Apesar de possuir em torno de 75 milhões de fêmeas aptas a reprodução, apenas 45 milhões, 65% destas, conseguem desmamar os bezerros (FERRAZ, 2021).
Métodos que possam maximizar a produção, como o uso de biotecnologias reprodutivas, auxiliam neste processo, como também a disseminação de genética superior. A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) é utilizada afim de favorecer a ovulação de fêmeas bovinas. Desta forma consegue amenizar atrasos no ciclo pecuário da fazenda, aumentando a quantidade e qualidade de bezerros produzidos.
Entre os inúmeros fatores que podem contribuir para o insucesso da IATF, o estresse ligado ao temperamento do animal tem grande influência. O temperamento é uma característica individual de cada animal, já que pode ser influenciada por diversos fatores, como: genética, manejos, condições ambientais e interações entre eles.
Os bovinos são capazes de se acostumarem com rotinas e pessoas que possuem envolvimento constante com eles no seu cotidiano. A forma que acontece essa interação durante os manejos impacta diretamente no temperamento deste animal. Quando manejados com calma, sem gritos e agressões os animais são mais mansos e dóceis. Diferente de quando são tratados em manejos rudes, com gritos e agressões, esses animais tendem a ser mais estressados.
Diante disto torna-se necessário dar ênfase no tema “temperamento”, sabendo seus impactos na produtividade. Existe medidas que podem nos dizer o grau de temperamento dos animais (Quadro 1).
Dobson et al. (2000) definiram estresse pela incapacidade de um animal lidar com seu ambiente, gerando falha para expressar seu potencial genético para taxa de crescimento e fertilidade.
O estresse contribui negativamente para a fertilidade das fêmeas, uma vez que ativa a liberação do cortisol e consequentemente diminui a secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), com isso há um atraso ou até mesmo bloqueio na onda pré-ovulatória de estradiol, e uma queda no pico do hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luiteinizante (LH) (BREEN et al., 2005). Estes são cruciais para que o ciclo estral das fêmeas funcione corretamente, e quando algum evento prejudica este ciclo, logo a prenhez não acontece.
Segundo Cook et al. (2011) vacas com temperamento estourado, apresentaram taxa de prenhez 17% menor que as com temperamento tranquilo. Este resultado evidencia a importância de adotar manejos que evitem colaborar para o estresse dos animais, e proporcionar ambiente no qual eles possam expressar seu comportamento natural e desse modo poder aumentar a eficiência reprodutiva, contribuindo para o desenvolvimento da pecuária.
Cruz et al. (2017) apresenta que vacas que que saíram correndo do brete, o que indica um temperamento agitado, também emprenharam menos que vacas que saíram andando indicando um temperamento mais calmo (Figura 2).
Oliveira et al (2019) realizaram a classificação visual por observação da reatividade do animal, durante seu período de permanência no tronco de contenção. Essa avaliação foi aferida para todos os animais pelo mesmo avaliador, classificada de 1 a 5, sendo 1 escore para sem comportamento de estresse e 5 para estresse alto. Os grupos mais reativos apresentaram as menores taxas de concepção com diferença de 13% para as pluriparas e 9% para as novilhas (Figura 3).
O bem-estar dos animais permite que ele possa produzir e reproduzir, e assim melhorar a eficiência do rebanho.
Para isso é necessário atender as 5 liberdades:
- livre de fome e sede;
- livre de desconforto;
- livres de dor, doença e injúria;
- ter liberdade para expressar seu comportamento natural e
- livres de medo e estresse.
Para atender estas liberdades são atividades essenciais:
- Uma equipe bem treinada de forma que possa manejar os animais em pastejo ou curral de forma adequada;
- No curral é essencial o manejo mais tranquilo possível, sendo seguro para animais e manejadores;
- Monitorando qualidade e fornecimento de água e ração;
Rondas são indispensáveis, uma vez que qualquer eventualidade possa ser notada;
Seguindo estas orientações é possível aumentar a produtividade do rebanho e da fazenda, mantendo a segurança de todos os colaboradores.
Paralelo as melhorias de manejo, a seleção de animais para temperamento auxilia ter um rebanho menos reativo, pois são características herdáveis, entretanto esse será tema para outro artigo.
RAYANE RITA ASSIS1, ADRIANA LUIZE BOCCHI2
1 Discente do Curso de Zootecnia, Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Jataí
2 Docente do Curso de Zootecnia, Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Jataí
Referências
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Belandi, C. Em 2021, o rebanho bovino bateu recorde e chegou a 224,6 milhões de cabeças. Disponível em: < https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/34983-em-2021-o-rebanho-bovino-bateu-recorde-e-chegou-a-224-6-milhoes-de-cabecas >. Acesso em: 15 abril 2023.
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